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sábado, 27 de julho de 2013

OS PROTESTOS, OS MÉDICOS E O FIM DA CPMF


É sempre muito importante prestar atenção nos acontecimentos. O que acontece no presente (é  chover no molhado dizer isso) tem uma relação intrínseca com o passado e será, certamente, refletido no futuro. A História explica isso. Essa enrolação inicial faz-se necessária para um comentário que tenho a fazer sobre a cobrança que nós temos feito sobre a problemática da saúde pública.

Os primeiros brasileiros a tomarem as ruas nas manifestações que aconteceram recentemente o fizeram em contra o aumento da tarifa de ônibus e metrô em São Paulo. A ação destrambelhada e violenta da polícia tucana do Alkmin desencadeou uma onda de solidariedade aos jovens do Movimento Passe Livre e o aflorou todo desejo de querer mais do povo brasileiro. Várias necessidades foram citadas: transporte público de qualidade; combate com mais rigor à corrupção; segurança pública de qualidade; saúde pública de qualidade, etc.. Para ficar apenas nesses quatro itens vejo que independente de classe social dois deles envolve a todos nós: segurança pública de qualidade e combate à corrupção. Os outros dois itens, transporte público de qualidade e saúde pública de qualidade tem um viés de público diferente. Posso estar errado mais não vejo coerência no público das classes média, média alta e alta lutar por esses dois últimos itens citados. Esse público definitivamente não depende do Estado brasileiro para esses fins, afinal tem plano de saúde particular e carros. Da segurança falarei em outra oportunidade. Agora quero comentar sobre SAÚDE PÚBLICA.

A maioria dos que foram às ruas exigindo saúde pública de qualidade é formada por jovens que há pelo menos uma década passaram a usufruir das benesses de uma inegável ascensão social. Dados estatísticos apontam para cerca de 30 milhões de brasileiros que ascenderam socialmente na última década. Ascensão social não está relacionada apenas a melhoria financeira mas, principalmente, ao acesso a informação e à educação. Esses três fatores, acredito, são os principais responsáveis por essa que chamo de FESTA DA DEMOCRACIA que é a manifestação por melhores condições de vida. O que vimos (claro, exceto os atos de vandalismos) foi o exercício pleno da CIDADANIA. Isso obrigou os políticos a se mexerem. Não somente a Presidenta Dilma, os governadores e os prefeitos, mas principalmente os “nobres” deputados e senadores. Respostas têm acontecido, mesmo que tardiamente. Como meu comentário é sobre saúde pública, aqui vai:

Em dezembro de 2007 parlamentares da oposição (PSDB, DEM e PPS) comemoraram, e muito, a derrubada da CPMF. Todos sabemos que esse imposto foi criado no governo FHC para financiar a SAÚDE. Aos digníssimos parlamentares da oposição interessava apenas acabar com um imposto, o que é justíssimo. A Senadora Kátia Abreu, na época no DEM, colocou até uma árvore de Natal no cafezinho do Plenário onde identificava determinados produtos com o preço dos mesmo com e sem CPMF. Segundo ela e todos os outros digníssimos deputados da oposição com a queda desse imposto, muitos produtos iriam ficar mais baratos. A maioria dos trouxas (otários, como diria Ciro Gomes) acreditou nessa fantasia e fez festa com o fim do imposto. RESULTADO: nem o preço dos produtos barateou e, pior que tudo, retirou-se 40 BILHÕES ANUAIS do orçamento da saúde.

A maioria dos que protestaram por saúde de qualidade depende do SUS, então não deve se esquecer de quem são os responsáveis pela retirada dessa grana da saúde e, consequentemente, pelos péssimos serviços de saúde pública.

Agora vamos aos médicos! que profissionais dedicados, caridosos, e humanizados! Eles têm se reunido em manifestações e também entrado com ações contra o programa Mais Médicos. Em sua defesa argumentam que não trabalham no interior por falta de condições adequadas de trabalho. Argumento justíssimo!!! Só tem um porém: ninguém me tira da cabeça que a grande maioria desses médicos são os filhos, ou os próprios, da classe média, média alta, e alta que em dezembro de 2007 comemorou a retirada, repito, de 40 BILHÕES ANUAIS, de investimento em saúde pública. Só de 2008 para o momento atual foi uma perda de receita da ordem de 220.000.000,00 (DUZENTOS E VINTE BIHÕES). Outro argumento é a quanto a vinda de médicos estrangeiros. Lutar para regularizar isso está certo, mas impedir não é democrático. E não me venham dizer que é o nosso país que tem as melhores faculdades de medicina e os melhores médicos do mundo. Aqui ó!!!!

Apenas para pensar, afinal isso é de graça.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

VIVA LULA!!! NOVAMENTE!!!!

Artigo de Lula no New York Times: A mensagem da juventude brasileira
"Os jovens, dedos rápidos em seus celulares, tomaram as ruas ao redor do mundo"
Parece mais fácil explicar esses protestos quando ocorrem em países não democráticos, como no Egito e na Tunísia, em 2011, ou em países onde a crise econômica aumentou o número de jovens desempregados para marcas assustadoras, como na Espanha e na Gré...
cia, do que quando eles surgem em países com governos democráticos populares - como o Brasil, onde atualmente gozamos das menores taxas de desemprego da nossa história e de uma expansão sem precedentes dos direitos econômicos e sociais.
Muitos analistas atribuem os recentes protestos a uma rejeição da política. Eu acho que é precisamente o oposto: Eles refletem um esforço para aumentar o alcance da democracia, para incentivar as pessoas a participar mais plenamente.
Eu só posso falar com autoridade sobre o meu país, o Brasil, onde acho que as manifestações são em grande parte o resultado de sucessos sociais, econômicas e políticas. Na última década, o Brasil dobrou o número de estudantes universitários, muitos de famílias pobres. Nós reduzimos drasticamente a pobreza e a desigualdade. Estas são conquistas importantes, mas é completamente natural que os jovens, especialmente aqueles que estão obtendo coisas que seus pais nunca tiveram, desejem mais.
Esses jovens não viveram a repressão da ditadura militar nas décadas de 1960 e 1970. Eles não convivem com a inflação dos anos 1980, quando a primeira coisa que fazíamos quando recebíamos nossos salários era correr para o supermercado e comprar tudo o possível antes de os preços subirem novamente no dia seguinte. Lembram-se muito pouco da década de 1990, quando a estagnação e o desemprego deprimiu nosso país. Eles querem mais.
É compreensível que assim seja. Eles querem que a qualidade dos serviços públicos melhore. Milhões de brasileiros, incluindo os da classe média emergente, compraram seus primeiros carros e começaram a viajar de avião. Agora, o transporte público deve ser eficiente, tornando a vida nas grandes cidades menos difícil.
As preocupações dos jovens não são apenas materiais. Eles querem maior acesso ao lazer e a atividades culturais. Mas, acima de tudo, eles exigem instituições políticas que mais limpas e mais transparentes, sem as distorções do sistema político e eleitoral anacrônico do Brasil, que recentemente se mostraram incapazes de gerir a reforma. A legitimidade dessas demandas não pode ser negada, mesmo que seja impossível atendê-las rapidamente. É preciso primeiro encontrar recursos, estabelecer metas e definir prazos.
A democracia não é um compromisso de silêncio. Uma sociedade democrática é sempre em fluxo, debater e definir as suas prioridades e desafios, em constante desejo por novas conquistas. Apenas em uma democracia um índio pode ser eleito presidente da Bolívia, e um afro-americano pode ser eleito presidente dos Estados Unidos. Apenas em uma democracia poderia, primeiro, um metalúrgico e umam depois, um mulher serem eleitos presidentes do Brasil.
A história mostra que, quando os partidos políticos são silenciados e as soluções são procuradas pela força, os resultados são desastrosos: guerras, ditaduras e perseguição das minorias. Sem partidos políticos não pode haver uma verdadeira democracia. Mas as pessoas simplesmente não querem votar a cada quatro anos. Eles querem interação diária com os governos locais e nacionais, e querem participar da definição de políticas públicas, oferecendo opiniões sobre as decisões que os afetam a cada dia.
Em suma, eles querem ser ouvidos. Isso cria um enorme desafio para os líderes políticos. Exige as melhores formas de engajamento, através da mídia social, nos espaços de trabalho e nos campi, reforçando a interação com grupos de trabalhadores e líderes da comunidade, mas também com os chamados setores desorganizados, cujos desejos e necessidades não devem ser menos respeitado por falta de organização.
Tem-se dito, e com razão, que enquanto a sociedade entrou na era digital, a política permaneceu analógica. Se as instituições democráticas utilizassem as novas tecnologias de comunicação como instrumentos de diálogo, e não para mera propaganda, eles iriam respirar ar fresco em suas operações. E seria mais eficaz trazê-los em sintonia com todas as partes da sociedade.
Mesmo o Partido dos Trabalhadores, que ajudei a fundar e que tem contribuído muito para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa de profunda renovação. É preciso recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens de forma paternalista.
A boa notícia é que os jovens não estão conformistas, apáticos ou indiferentes à vida pública. Mesmo aqueles que pensam que odeiam a política estão começando a participar. Quando eu tinha a idade deles, nunca imaginei que me tornaria um militante político. No entanto, acabamos criando um partido político quando descobrimos que o Congresso Nacional praticamente não tinha representantes da classe trabalhadora. Através da política conseguimos restaurar a democracia, consolidar a estabilidade econômica e criar milhões de empregos.
É evidente que ainda há muito a fazer. É uma boa notícia que os nossos jovens querem lutar para garantir que a mudança social continue em um ritmo mais intenso.
A outra boa notícia é que a presidente Dilma Rousseff propôs um plebiscito para realizar as reformas políticas que são tão necessárias. Ela também propôs um compromisso nacional para a educação, saúde e transporte público, em que o governo federal iria fornecer apoio técnico e financeiro substancial para estados e municípios.
Ao conversar com jovens líderes no Brasil e em outros lugares, eu gostaria de dizer-lhes o seguinte: Mesmo quando você está desanimado com tudo e com todos, não desista da política. Participe! Se você não encontrar em outros o político que você procura, você pode achá-la em si mesmo.
Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente do Brasil, que agora trabalha em iniciativas globais com o Instituto Lula.

domingo, 7 de julho de 2013